Um papo com Claude Troigros sobre gastronomia & Que Marravilha!

Esse post tava guardadinho com muito carinho desde o ano passado. Quem é mais próximo e me acompanha nas redes sociais pessoais, sabe que ano passado estive nos bastidores da próxima temporada do Que Marravilha!, que convidará pessoas sem nenhuma intimidade com as panelas para aprender uma receita com a super dupla Claude Troigros & Batista. Eu já havia conhecido o Claude num desses prêmios mas aquela seria a minha primeira entrevista com ele. Tava pouco nervosa, né?

Um papo com Claude Troigros sobre gastronomia & Que Marravilha!

é assim que a mágica acontece na TV

Quando comecei a levar mais a sério esse papo de gastronomia, conheci inúmeros chefs e profissionais da área realmente apaixonados pelo que fazem, com trabalhos incríveis nesse mercado, seja profissionalizando ou ampliando a discussão em torno do assunto. E veja bem, não estou falando de gastronomia inacessível, aquela que só acontece em restaurantes caríssimos, para poucos. Falo aqui de comida, alimentação, filosofia de vida mesmo. E o Claude é um cara extremamente comprometido com o assunto. É dessas pessoas que faz o que faz com paixão e alma.

Um papo com Claude Troigros sobre gastronomia & Que Marravilha!

meu momento tiete

Tive a chance de conversar alguns minutos com o Claude sobre o boom da gastronomia no Brasil, passando por alimentação saudável, democratização do mercado e comidinhas favoritas. Foi um papo gostoso e divertido.

. Como vocês veem o momento da gastronomia brasileira atualmente?

A gastronomia brasileira hoje em dia está passando por um momento muito positivo. A gente passou 38 anos trabalhando nisso, passamos por momentos diferentes… Primeiro uma gastronomia moderna que não existia, onde eu fui, realmente, um formador de opinião, criei uma maneira de valorizar o produto brasileiro. E depois, mais ou menos nos anos 200o, com o Alex Atala, Roberta Sudbrack, Felipe Bronze, esse pessoal que levou pra frente o meu trabalho, que começou de maneira mais moderna e acabou “mundializando” isso, eu diria. E agora temos um momento em que jovens chefs, não somente apenas no eixo SP-RJ, já percebemos esse movimento no Brasil todo… Estão fazendo um trabalho realmente muito competente, porque eles foram formados por nós, inclusive… Eles vão em busca de novos ingredientes, diretamente nos produtores, ou então produtos que estão esquecidos ou mesmo que não conhecemos. Um resgate da culinária tradicional, de cada região do país, fazendo uma releitura atual… enfim, a gente tá nesse momento.

. Cada vez mais temos programas na TV paga e aberta de culinária, seja ensinando receitas ou os famosos reality shows. O que acham dessa democratização da gastronomia?

Acho que a gente tem que separar a gastronomia brasileira moderna profissional da gastronomia televisiva, que são duas coisas bem diferentes e atingem dois tipos de público. Agora, a televisão é outra coisa. Temos hoje em dia programas de culinária por tudo quanto é lado, obviamente cada um com o seu perfil, sua proposta… Por exemplo, os reality shows. Não chegam a ser programas de culinária mas de diversão, entretenimento. Não chega a ser REAL, o dia a dia que acontece numa cozinha. Tem programas como o Que Marravilha, que são mais reais, a gente realmente cozinha, faço uma comida que possa ser reproduzida em casa (por quem assiste). Agora, se formos juntar a gastronomia com o lado televisivo, tudo isso forma, de fato, um novo momento para o público brasileiro. É um momento em que a gente presta mais atenção no que estamos comendo, a culinária virou moda, todo mundo quer cozinhar, todo mundo tem interesse em produtos, em técnica, todo mundo quer investir na sua cozinha, nas suas panelas… Houve um crescimento no interesse, que não existia há 10, 15 anos atrás.

. Claude, a sua resposta meio que já responde a minha próxima pergunta, que era justamente sobre as pessoas estarem cozinhando mais por causa dos programas. Ou você acha que elas assistem apenas por diversão e acabam comendo uma lasanha congelada no fim das contas? A sua fala diz que sim, elas estão interessadas em comer melhor por causa…

Mas isso não se faz de um dia pro outro. É um processo longo, mas a gente tá falando de diversas classes. Não estamos focando só na classe média – alta, até a classe baixa tá se tocando disso. Nosso público mesmo é uma classe média – baixa e essas pessoas estão querendo fazer melhor. “Vamos fazer um feijão diferente, um arroz diferente, um frango…”. Abre porta pra outras coisas.

. É uma cozinha acessível, certo?

Exatamente. Abre-se a porta para a criatividade. As pessoas estão descobrindo os temperos, escolhendo melhor os ingredientes, prestam atenção ao que nós fazemos na TV com esses produtos… É devagar, sabe? Mas tá indo, tá crescendo. Por isso quando comparamos com a França, ahhh a França é a França, mas isso existe há milênios por lá (risos).

. Pegando um gancho na nova temporada do seu programa: você acha que as pessoas tem resistência a cozinhar?

Engraçado, antes de começar a gravar essa temporada, eu pensava que as pessoas tinham resistência em cozinhar, mas não é. Claro, algumas delas tem falta de interesse sim, sem dúvida alguma… mas a cada edição, milhares de pessoas se inscrevem, realmente querendo aprender alguma coisa. Então elas estão abertas a isso.

. Mas o que espanta, talvez, seja a ideia de que é muito difícil, né? Daí acabam se sabotando…

Boa parte tem falta de paciência, não sabem por onde começar muitas vezes e aí quando experimentam percebem que não é tão difícil assim. Exige cuidado, sim… mas exige, principalmente, paciência. Muita gente acaba não entrando na cozinha por medo também. A mãe cozinha, o pai, a avó… daí a pessoa cresce sem se aventurar nesse espaço. Ficam confortáveis com isso.

. Muitas vezes a pessoa também só tem a necessidade de cozinhar quando sai de casa, vai morar sozinho, ou quando se casa e se vê diante de uma cozinha pra cuidar. E aí entram em desespero, não sabem o que fazer.

Mas isso acontece com todos nós. Até eu, que sou cozinheiro profissional, já aconteceu de morar sozinho e também ficar nessa de não querer cozinhar. Você geralmente cozinha pra alguém, quando é pra você acaba saindo aquele ovo mexido, aquela comida rápida (risos)

– nesse momento, Claude ria bastante e eu também –

. E você cozinha em casa? E quando bate a preguiça, o que você faz?

Cozinho mas não cozinho pra mim. Cozinho pra minha mulher, meus filhos, meus amigos… Mas vamos lá, porque você fez duas perguntas diferentes. Uma coisa é eu cozinhar porque tenho um momento especial em casa, um domingo com a família, uns amigos que vieram jantar… Agora, no dia à dia eu não cozinho. Cozinho o dia inteiro nos restaurantes, aí quando chego em casa eu quero ver televisão! No dia à dia, realmente, se eu tô com fome, vou ali e faço rapidinho uma massa, um molho de tomate, mas já comi macarrão instantâneo QUE EU AMO e pronto.

. SEGREDOS DE CLAUDE TROIGROS REVELADOS!

Mas é raríssimo eu ter fome. Eu como o dia inteiro. Acabo comendo uma fruta, um abacaxi, pra mim resolve.

. E você também é gente como a gente, que pede comida pelo delivery quando bate a fome?

Olha, eu nunca peço. Quer dizer, a única coisa que eu peço é comida japonesa. Quando bate uma preguiça MESMO, eu pego o telefone e peço japonês. Mas olha, é muito difícil porque falo com a minha mulher, é impressionante como a gente consegue cozinhar algo muito bom em apenas 10 minutos. Eu olho na geladeira, pego uma cebola, um queijo, e aí nasce algo muito bom.

. Você concorda que cozinha é tentativa e erro? Que a gente aprende mesmo é na prática?

Eu vivo falando que você pode seguir a risca uma receita mas também pode e deve ousar. A comida, de qualquer jeito que ela seja feita, tem duas coisas importantes: tempero, a sensibilidade de usá-los, e “reduzir”. Muita gente não tem essa paciência pra reduções. Colocar um líquido qualquer, pode ser até água, e deixar cozinhar… 20, 30 minutos… Dá outro sabor. Nesse frango que fizemos hoje (Claude tinha feito um frango caipira com quiabo), se eu coloco água direto e não faço um caldo, teria outro sabor.

. Claude, uma última pergunta muito importante: feijão por cima ou por baixo do arroz?

– MUITOS RISOS – 

Eu não como feijão como vocês costumam comer aqui no Brasil. Geralmente, quando como, coloco uma colherzinha só por cima do arroz. Mas, quando como feijoada, aí eu capricho em cima do arroz. Eu adoro feijoada. E te digo mais: eu coloco o arroz, o feijão e a farofa por último! E ainda coloco farofa na salada verde.

A próxima temporada de Que Marravilha! estreia no dia 09/03, às 21:30 no GNT. O foco dessa nova temporada, como comentei rapidamente, é levar pra cozinha pessoas completamente inexperientes, que aprenderão uma receita para, depois, reproduzi-la em seus lares. E não é só seguir o passo a passo, viu? A missão inclui ir no mercado ou feira escolher os produtos, higienizar cada um, cozinhar de fato… Pelo pouco que assisti, será diversão na certa!

Um papo com Claude Troigros sobre gastronomia & Que Marravilha!

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Agradecimentos à Beatriz Pestana & Beatriz Sá por todo o carinho!

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